Parole, Parole e Parole, por Luís Fernando Veríssimo
Parole, Parole e Parole, por Luís Fernando Veríssimo
Você sabia que a palavra "gravata" vem de "cravate”, que era o nome francês para croata? Soldados croatas recrutados pelo exército francês para a Guerra dos Trinta Anos usavam um pano em volta do pescoço que depois os franceses adotaram como moda, mantendo o nome "cravat". Isto talvez condicione a sua natural simpatia pelos croatas nessa luta contra os truculentos sérvios. Pelo menos ninguém é obrigado a andar com um sérvio pendurado no pescoço.
Durante a Idade Média a palavra "búlgaro" era sinônimo de pederasta. Lima seita herética da Bulgária pregava a purgação dos pecados da humanidade pela abstinência sexual e naturalmente foi tachada pelo cristianismo oficial de sodomita. Daí, com este significado, vem o latim "bulgarus", o inglês "bugger" e o francês "bougre", do qual, por linhas tortas - de herético sodomita a grosseiro, bárbaro e selvagem - chegamos ao nosso "bugre". Da próxima vez que chamar alguém de bugre, portanto, dependendo do seu tamanho, apresse-se a dizer "no sentido moderno, claro". Curiosamente, a pederastia é chamada na França de "a doença inglesa" e na Inglaterra de "o vício francês". Esse túnel não pode dar certo.
Nada a ver com nada: em Paris os salões de beleza oferecem depilação "bresilienne", que inclui a área pubiana. Nos Estados Unidos, beijo de língua é "beijo francês". Beijo inglês, parece, é na testa.
Mas faz injustiça quem, como eu, sempre pensou que "cretino" tem algo a ver com ilha de Creta. Na verdade, vem de uma palavra para cristão. Uma determinada região da Suiça tinha uma grande população de deformados devido a alguma deficiência glandular. Eram chamados de "crestins", do latim "Christianus", para lembrar que, apesar de tudo, eram gente. Mas o termo passou para o francês, como "cretin", com o sentido de idiota mesmo.
A linguagem se depura e se deforma com a mesma facilidade, e sua inconstância serve para todos. De búlgaros a cristãos com problemas de tireoide.