Traços biográficos de Lalino Salãthiel ou A volta do marido pródigo
Major Anacleto relia — pela vigésima terceira vez — um telegrama do Compadre Vieira, Prefeito do Município, com transcrições de um outro telegrama, do Secretário do Interior, por sua vez inspirado nas anotações que o Presidente do Estado fizera num ante primeiro telegrama, de um Ministro conterrâneo. E a coisa viera vindo, do estilo dragocrático-mandológico-coactivo ao cabalístico-estatístico, daí para o messiânico-palimpséstico-parafrástico, depois para o cozinhativo-compradesco-recordante, e assim, de caçarola a tigela, de funil a gargalo, o fino fluido inicial se fizera caldo gordo, mui substancial e eficaz; tudo isso entre parênteses, para mostrar uma das razões por que a política é ar de fácil se respirar — mas para os de casa, os de fora nele abafam, e desistem.
Primeiras Estórias
No mais, mesmo, da mesmice, sempre vem a novidade.
Tutaméia – Terceiras Estórias
Todo abismo é navegável a barquinhos de papel.
Conversa de bois, Sagarana
Bois carreiros: Buscapé, Namorado, Capitão, Brabagato, Dançador, Brilhante, Realejo, Canindé.
A Hora e a Vez de Augusto Matraga
A gente não deve de esperdiçar choro em-antes de ver o defunto morrer.
Mas daí a um mijo.
Se sorvetou na montoeira (sumiu, desapareceu).
Filho único de pai pancrácio ( menino mimado e mandão; pancrácio é tolo).
Foi cuspir no canguçu detrás da moita (foi provocar o inimigo).
- Êpa! Nomopadrofilhospritossantamêin! Avança, cambada de filhos da mãe, que chegou minha vez! ... E a casa matraqueou que nem panela de assar pipocas, escurecida à fumaça dos tiros, com os cabras saltando e miando de maracajás, e Nhô Augusto gritando qual um demônio preso e pulando como dez demônios soltos.
- O gostosura de fim de mundo!...
Grande sertão: veredas
O senhor pode às vezes distinguir alhos de bugalhos, e tassalhos de borralhos, e vergalhos de chanfalhos, e mangalhos... Mas, e o vice-versa?
Tive medo não. Só que abaixaram meus excessos de coragem.
Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda parte.
O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.
Viver é negócio muito perigoso...
Eu sou é eu mesmo. Diverjo de todo o mundo... Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.
Quem desconfia, fica sábio.
E as ideias instruídas do senhor me fornecem paz. Principalmente a confirmação, que me deu, de que o Tal não existe; pois é não? O Arrenegado, o Cão, o Cramulhão, o Indivíduo, o Galhardo, o Pé-de-Pato, o Sujo, o Homem, o Tisnado, o Coxo, o Temba, o Azarape, o Coisa-Ruim, o Mafarro, o Pé-Preto, o Canho, o Duba-Dubá, o Rapaz, o Tristonho, o Não-sei-que-diga, O-que-nunca-se-ri, o Sem-Gracejos... Pois, não existe!...mas tem o Outro – o figura, o morcegão, o tunes, o cramulhão, o debo, o carocho, o pé-de-pato, o mal-encarado, aquele – o-que-não-existe!
O Que-não-fala, O Que-não-ri, o Muito-Sério, o Sempre-Sério, O coisa-má, O Cujo, O Figura, Arrenegado, o Pai-do-Mal, o Tendeiro, o Mafarro, o Solto-Eu, o Ele, o Careca, o Pai-da-Mentira, o Bode-Preto, o Xu, o Dado, o Danado, o Dos-fins, o Austero, o Severo-Mor, o Das Trevas, o Rapaz, o Danador, o Oculto o O, o Dos-Fins, o Outro, o Tanjão, o Tibes, o Tentador, o Anhangão, o Maligno, o Temba, ...